O Barão do Rio-Branco

No final do século 19, o Brasil que herdou de Portugal séria disputa tricentenária com a França. Tratava-se de território contestado entre o Brasil e a Guiana Francesa. Não era pouca coisa, pois acabou por resultar numa área de 260 mil km2.
Depois de repetidos encontros e negociações sobre esse território contestado, já na República, Brasil e França concordaram em submeter a questão a arbitramento, submetida ao governo da Suíça.
Só isso já foi uma vitória, pois na época as teorias imperialistas predominavam no mundo, e nada impedia a França de se apossar do território pela força, sem apelação.
Mesmo assim, a posição do Brasil era precária. Disputar com a França, que na época era o centro da civilização ocidental, no coração da Europa, com uma das mais importantes armadas da época e onde o francês era a língua utilizada pela diplomacia, representava desafio equivalente a missão quase impossível.
Depois de diversas negociações, os dois países concordaram em assinar um tratado de arbitragem.
O Ministério das Relações Exteriores incumbiu José Maria da Silva Paranhos Jr. (mais conhecido como o barão do Rio-Branco – título nobiliárquico recebido em 1888 e que Paranhos Jr. insistiu em manter, durante a República) de resolver a questão. É importante, aqui, salientar que Rio-Branco não contou, durante os cinco anos que durou a causa, sequer com uma única instrução da chancelaria brasileira, para auxiliá-lo na preparação das Memórias que ele próprio pesquisou e redigiu, como defesa da causa brasileira.
É difícil, hoje, visualizar a montanha espinhosa de dificuldades que aquele solitário brasileiro teve de enfrentar, diante da poderosa diplomacia francesa. Para montar sua defesa, o governo francês criou uma comissão, composta de 8 peritos, para a redação dos documentos de defesa da posição francesa.
Em “O Barão e a Gastronomia”, procurou-se descrever apenas a etapa final do processo de arbitragem, realizada em Berna, na Suíça, para onde Rio-Branco se deslocou, para poder acompanhar de perto os desenvolvimentos da causa e esclarecer, junto aos 7 Conselheiros Federais suíços, que constituíam a corte arbitral, quaisquer dúvidas que pudessem vir a ter. Além da ajuda social que sua filha de 21 anos lhe prestou, o barão contou com auxiliares, cujo trabalho descontínuo, em decorrência de suas transferências desavisadas pela Chancelaria brasileira, o levaram a praticamente trabalhar de maneira solitária. Rio-Branco enfrentou todo tipo de dificuldade, além do fato de que a França contava com sua embaixada em Berna, onde o embaixador (nomeado chefe da missão francesa), teve dois ajudantes importantes: um embaixador que havia servido na América do Sul e um ex-governador da Guiana Francesa – justamente daquela colônia francesa que disputava o referido território.
A despeito de todas as adversidades, o território de 260 mil quilômetros quadrados que o laudo final atribuiu ao Brasil representou uma das maiores vitórias que o país conquistou no exterior. Para se ter uma ideia da importância dessa vitória, basta comparar a extensão do território incorporado com os 242,5 mil km quadrados que constituem o total do Reino Unido.
O trabalho “O Barão e a Gastronomia” procura salientar como Rio-Branco acrescentou a arte de receber (em suas diversas manifestações), aos seus múltiplos instrumentos diplomáticos, para ajudar a obter o ganho de causa, em tão difícil processo arbitral. Procurou-se, fundamentar com fatos essa faceta da diplomacia, exercida com eficiência e lisura por aquele extraordinário estadista e diplomata.

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